Foi lindo ver o Mc Poze do Rodo nos braços do povo!
O país da bandidolatria protagonizou mais um vexame difícil de ser digerido.
A cena transmitida ao vivo em rede nacional por canais de imprensa oficial e amplificada por inúmeros telefones celulares conectados à redes sociais, davam conta de uma grande massa de populares que, em catarse, gritavam palavras de ordem e de adoração ao MC Poze do Rodo que, ao lado da esposa, com meio corpo para fora do teto solar do carro, vibravam efusivamente.
O seu gestual transparecia um misto de alegria e raiva ao mesmo tempo.
Parecia a saída triunfante de uma grande personalidade, um grande heroi nacional que havia feito algo realmente relevante ou sofrido uma injustiça comovente.
O que chamou a atenção foi o, também MC, Oruam, filho de um conhecido traficante de drogas preso há quase trinta anos. Segundo investigações, ele é líder do Comando Vermelho, mesma facção que a polícia acredita que o Mc Poze possui envolvimento.
Oruam aparece em imagens subindo em tetos de ônibus parados envolvidos por populares. Uma grande multidão aos berros festejando a soltura do cantor.
Esta mobilização aconteceu porque a justiça prolatou sentença que concedeu liberdade provisória ao rapper preso. Poze parecia um heroi.
Aquilo me colocou em profunda reflexão. Não fazia sentido um homem preso, com provas fartas, que assinou um documento quando entrou no sistema carcerário confessando que fazia parte da facção criminosa alegada pela polícia para não ficar em pavilhões destinados a outras facções rivais, saindo pela porta da frente.
Quando vi os vídeos que viralizaram, toda aquela multidão gritando loucamente, imaginei uma outra cena onde uma grande multidão gritava da mesma maneira: – BARRABÁS! SOLTE O BARRABÁS!
O PRIMEIRO FATO
Cinco dias antes deste, as imagens que surgiram nos noticiários e viralizaram nas redes sociais, davam conta que este mesmo cidadão havia sido preso pela polícia civil do Rio de Janeiro sob a acusação de apologia ao crime e envolvimento com o tráfico de drogas.
Conhecido por ser um cantor de funk que, segundo a polícia, realiza shows em áreas dominadas por facção criminosa, sempre recheada de criminosos armados com pistolas e fuzis especialmente.
Nas suas letras, muitas frases que incentivam a violência, o uso de armas de fogo, drogas, sexo, palavrões e ofensas à mulheres.
Chama atenção suas manifestações durante suas apresentações com gritos de guerra a favor de uma das facções cariocas mais antigas e poderosas, como facilmente se pode ver em vídeos que rolam pelas redes sociais.
COMO CHEGAMOS AQUI?
São muitos problemas em uma mesma imagem. Como pode um criminoso se tornar heroi? Como pode o Estado brasileiro aceitar que facções criminosas tenham territórios? Como é possível prender um criminoso e não ser capaz de mantê-lo preso? Como pode?
Como nossa sociedade se afundou nesse lamaçal de valores trocados? Como nos tornamos capazes de torcer para o vilão? Onde está nosso senso moral? Como nos tornamos tão irresponsáveis com o futuro dos nossos filhos e passamos aceitar pacificamente tantos absurdos?
Podemos percorrer muitos caminhos em busca de respostas para essa total inversão de valores morais, mas, inevitavelmente, esbarramos no pensamento de Michel Foucault.
A INFLUÊNCIA
Filósofo e historiador francês, nascido em 1926 e falecido em 1984 em decorrência da, ainda recente, AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Suas obras consistem em tentar normalizar o estilo de vida que ele mesmo escolheu para viver, dar uma roupagem de liberdade e protesto contra o opressão estatal.
Homossexual, esmerou-se para derrubar os princípios norteadores da sociedade do seu tempo afirmando que os valores da época aprisionavam o corpo, o ser e o pensar. Seu alvo preferido era a família tradicional, a religião e todas as regra organizadoras e morais que melhoravam o funcionamento da sociedade.
Sua morte precoce epor AIDS, depoe contra sua tentativa de apregoar o sexo “livre”, profano e vulgar como um grito por liberdade que levaria a sociedade a viver mais e melhor.
Se sua pregação fosse verdadeira, ele deveria ser o primeiro a usufruir das escolhas que fez tendo uma vida longeva e feliz, porém, como vimos, não foi isso que aconteceu.
Loucura, morte precipitada, sem família, sem herdeiros. Ele era uma casca vazia, um menino mimado que não gostava de regras e que preferiu criticar tudo sem propor nada. Imagina levar toda a sociedade para o mesmo destino que Foucault acabou experimentando?
Em nenhum dos seus versos ele foi capaz de prever a ruína que a estrada que ele construiu o conduziria.
Sua loucura o levou para além da homossexualidade e do sexo como instrumento revolucionário, chegando a empáfia sádica e psicopata de tentar tornar normalizar a pedofilia – sexo com crianças.
Na sua obsessão para não se sentir diferente, desenvolveu teorias que explicariam a loucura, a punição de criminosos e a moralidade sexual como “cadeias” que reprimiam o “livre viver” dos cidadãos, os subjugando um sistema de vigilância interno, pessoal, que os levava auto-repressão e à repressão dos outros.
Ele criou a ideia de que o negro, pobre e favelado era uma vítima que o Estado “escolheu” para punir e que, sempre que estes são “pegos”, o são porque o Estado os odeia e a sociedade os detesta mesmo quando acompanhados de vasta lista de crimes e antecedentes criminais.
Na narrativa Foucaultiana, muito bem admitida pelo mundo acidental e quase regra nos nossos dias, favelados, periféricos, pretos e pobres são a imagem da criminalidade e do tipo de ser humano que o Estado não quer, bem como dos marginalizados “feitos” maus e indesejáveis para justificar suas violências.
Se o Estado e seus desdobramentos são a causa de toda a desgraça faz com que pessoas como Mc Poze consigam parecer um símbolo de resistência ao Estado perverso. O nível de loucura e irracionalidade não permite que setores da sociedade, como mídia e grupos progressistas ignorem fatos que, por si só, demonstram uma realidade diversa da idealizada. Ainda que existam vídeos do cantor cantando com arma na cintura, enaltecendo o crime organizado e que tenha se autodeclarado “faccionado”, é ainda um inocente, coitado e vítima de todo um sistema criado para o destruir.
PARA ALÉM DE FOUCAULT
Jean Baudrillard, em sua obra A Sociedade de Consumo (1970), argumenta que, na sociedade do espetáculo, a imagem importa mais que a realidade.
Com isso, o sociólogo e filósofo francês, pretendia dizer que as autoridades estatais desejam reforçar o estereótipo do criminoso, dando um recado para aqueles que não pretendem obedecer.
Seguindo esta lógica, tanto Foucault quanto Baudrillard, sugerem que, insurgir-se contra o Estado punidor e repressivo, é sinônimo de liberdade, é transgressor, é revolucionário, é corajoso, dando ao criminoso carismático uma “ar de vilão do bem”, uma espécie de Robin Hood dos estigmatizados.
Friedrich Nietzsche, em Genealogia da Moral, critica a moral cristã que “reprime” os desejos humanos e valoriza a obediência.
Ele diz que o criminoso é a melhor expressão do “espírito livre”, da rebeldia que se insurge contra a hipocrisia da moral cristã.
Neste sentido, Nietzsche dá ao criminoso um ar de “admirável” por infringir as regras estabelecidas, conectando-se, inconscientemente, com uma sociedade que se deteriora moralmente na velocidade da luz.
“O homem forte é aquele que cria seus próprios valores — mesmo contra a moral vigente.” Friedrich Nietzsche (Genealogia da Moral)
O PANOPTISMO – A Torre de Vigilância
Foucault atacou diretamente o senso de moralidade que, à duras penas, foi introduzido na sociedade pelo cristianismo ao longo de muitos anos.
Palavras direcionadas aos instintos humanos mais animais e reprimidos, escolhidas cuidadosamente, aliadas a uma insatisfação com as coisas como são e a um desejo inexplicável de que tudo é ruim e deve ser diferente, caíram como um mundo dos sonhos de uma geração que começava a ter uma vida mais sossegada, mais organizada, mais próspera e mais pacífica justamente por causa dos tijolos assentados por seus predecessores.
Para ele, a moral da sociedade, baseada no cristianismo, era uma torre de vigilância que só pretendia frear os instintos humanos, principalmente, os sexuais.
Seu êxito não está mais em uma punição visível, feita por armas e cassetetes, mas em convencer o indivíduo a exercer uma autopunição, criar uma consciência coercitiva que proíba o indivíduo, algo como uma torre de vigilância eficaz.
“A visibilidade é uma armadilha.” (Foucault)
Foucault ganhou as universidades e, a partir dela, conquistou as mais altas esferas do pensamento progressista. Seduziu os jovens e os adolescentes, rebeldes sem causa, vazios do senso de responsabilidade e inexperientes para terem anticorpos. Presas fáceis!
Ajudados por uma educação familiar que afrouxa ao invés de apertar, que não prepara os filhos para a dureza da vida mas para um acervo de facilidades que nunca chegará, evoluíram ao contrário!
Tudo que o marxismo cultural precisava, apareceu em Foucault. Todas as boas desculpas para inverter os valores que existiam, chegaram de forma assoladora e convincente.
Toda base argumentativa que os movimentos indenitários desejavam para ganhar penetração na sociedade, Foucault forneceu. Não é por outro motivo que ele é endeusado nos meios acadêmicos, apesar dos pesares.
O mundo sorriu para as loucuras de Foucault! No Brasil, após a ditadura militar, suas aberrações passaram a fazer ainda mais sentido.
A partir daí, fomos governados e aparelhados pela esquerda gramsciana, que ama Marcuse e respira Foucault. Nossa sociedade geme por causa destes desalinhos e traumas. A ferida é profunda, de difícil tratamento. Crianças choram diante destes marginais que, quanto mais bizarros e marginais, melhor. Cantam apaixonados estas canções como se fosse o grito de liberdade da periferia enquanto os pais sorriem achando que tudo não passa de “coisa de criança”.
CRIMINOSOS OU HEROIS?
Talvez o que de melhor represente tudo isso seja o nome do filho de traficante condenado, herói das comunidades, dos versos que romantizam o crime, das músicas ruins e propagadoras de violência, dos que odeiam o Estado e as suas forças policiais, ORUAM! Diz-se que seu nome, originalmente, seria Mauro, sendo sua versão artística o mesmo nome, só que ao contrário.
Perfeito. Nada pode fazer sentido, nada pode estar certo, nada pode ser direito no país que aceitou ideologias que deixam tudo ao contrário.
Um comentário
Uau!!! Conclusão brilhante!!!